EQM

Aparentemente, um monte de gente cujos blogs acompanho gosta do 1001 Gatos de Schrödinger. Resolvi, então, explorar o tal blog. Não entendi muita coisa, confesso, mas descobri Ibrahim Cesar e seu surpreendente livro EQM.

EQM, sigla para experiência de quase-morte, é um romance extremamente original. É uma historia sobre Jonas, um rapaz tímido tentando encontrar um sentido para a vida. É amigo do cínico George, com quem trabalha. Na sua jornada existencial, descobre a clínica Novo Caminho, que vende experiências de quase-morte. Na clínica, conhece Falls, que é amiga de Regina, com quem Jonas trabalha…

Capa de EQM

Capa de EQM

…mas não vou me deter nos detalhes da história. O que importa é que EQM é um ótimo livro. Ibrahim Cesar escreve muito bem, sabe cativar o leitor e tem um estilo moderno e divertido de escrever. O autor sabe utilizar muito bem de ironia fina: o livro todo dá a impressão de que o narrador está com um sorriso de canto de boca.

A modernidade do texto é outra qualidade de EQM. É um livro jovem, antenado. Faz uso competente de referências à cultura pop menos massificada – a ponto que eu acho que eu mesmo não percebi todas. Isto é, porém, “irrelevante”, como diria George: você não tem de conhecer as referências para entender o texto. O que for necessário saber, será muito bem explicado, mas não num tom professoral: em EQM, até as explicações científicas e históricas são boa literatura.

Embora eu tenha ressaltado quão prazeroso e elegante é o texto, é bom frisar que EQM também é um livro profundo, embora leve. As histórias e as decisões dos personagens certamente fazem pensar. Acredito que muitas das situações refletirão aspectos da vida das maiorias dos leitores, mas serão apresentadas de maneira nova, num contexto original e com questões difíceis, o que torna o livro um mind-feeder notável.

O livro tem também seus pontos baixos. O final parece ter sido feito às pressas, sem muita vontade. Tem inclusive uma referência ótima, mas explícita demais para quem já conhece. A revisão também fica muito a dever, especialmente no final. Há erros suficientes para atrapalhar o fluxo da leitura.

Entretanto, nada isso impede uma boa apreciação de EQM. O livro está disponível, grautamente, sob Creative Commons. Também é vendido impresso pelo site Os Viralata. Se a versão impressa for melhor revisada, certamente vai valer a pena comprá-la, e eu farei isso, se for o caso. Nada mais justo que pagar por uma obra-prima.

O culto à amada

Cultuo o corpo dela, a minha amada,

tão cheio de prazer e fanatismo

quanto convém àquele que do nada

fugiu, em direção ao hedonismo.

Louvo a boca de minha namorada

com um louvor parente do extremismo

como convém àquele que a cada

beijinho menos cede ao pessimismo.

Adoro o braço longo, a perna fina,

olhar gigante, vulva pequenina,

nariz, cabelo, seios, palma, pé…

Sou todo adoração a uma humana

cujo corpo salvou-me a alma insana

melhor do que pudera qualquer fé!

2005

Don’t worry, be happy

Prezados leitores,

Houve um pequeno engano na última postagem. Eu afirmei que o hino da felicidade provavelmente seria Smiley Faces. Que erro grosseiro! Smiley Faces é bom e empolgante, mas o hino da felicidade é, claramente, Don’t Worry, Be Happy!

Here’s a little song I wrote,

You might want to sing it note for note:

Don’t worry, be happy.

In every life we have some trouble

But when you worry you make it double:

Don’t worry, be happy.

Don’t worry, be happy now.

Don’t worry, be happy. Don’t worry, be happy.

Don’t worry, be happy. Don’t worry, be happy.

Ain’t got no place to lay your head

Somebody came and took your bed:

Don’t worry, be happy.

The landlord say: “Your rent is late.

He may have to litigate.”

Don’t worry, be happy.

Look at me – I’m happy. Don’t worry, be happy.

Here I give you my phone number. When you worry, call me,

I make you happy. Don’t worry, be happy.

Ain’t got no cash, ain’t got no style,

Ain’t got no gal to make you smile:

Don’t worry, be happy

‘Cause when you worry your face will frown

And that will bring everybody down

Don’t worry, be happy.

Don’t worry, don’t worry, don’t do it.

Be happy. Put a smile on your face.

Don’t bring everybody down.

Don’t worry. It will soon pass, whatever it is.

Don’t worry, be happy.

I’m not worried, I’m happy.

Você também pode assistir legendado aqui.

A música de Bobby McFerrin é baseada numa famosa frase do místico indiano Meher Baba. Em 1988, foi a número um no Billboard Hot 100 por duas semanas – feito inédito para uma a cappella. Desde então, é a música para aliviar as horas do desespero.

Bom proveito!

Gnarls Barkley

Gente saudosista é muito chata, especialmente em música. Você sabe do que estou falando: aquelas pessoas que vivem dizendo que “nada que se faz hoje presta”, “naqueles tempos é que era bom”, “a música morreu” etc. etc. Posso falar com tamanha confiança porque eu também sou um desses chatos. Gosto de muito pouca música posterior aos anos 90. Nesse pequeno conjunto, se destaca Gnarls Barkley.

Esse idiossincrático projeto é uma joint venture musical dos estadunidenses Cee-Lo e Danger Mouse. Cee-Lo é um conceituado cantor de hip hop e soul. Começou sua carreira no grupo Goodie Mob, de Atlanta, depois partiu para uma não muito bem-sucedida carreira solo. Embora seja “oficialmente” um rapper, seu estilo e sua voz lembram muito gospel, o soul e o blues.

Cee-Lo, em primeiro plano, e Danger Mouse

Gnarls Barkley: Cee-Lo, em primeiro plano, e Danger Mouse

Danger Mouse, por sua vez, é um produtor de Nova Iorque. Ficou conhecido pelo The Gray Album, mixagem de The White Album dos Beatles com The Black Album do rapper Jay-Z. Esse trabalho lhe rendeu algumas dores de cabeça com a EMI, detentora dos direitos autorais do disco dos Beatles. De qualquer forma, The Gray Album foi um sucesso e Danger Mouse foi convidado para produzir Demon Days, dos Gorillaz, outro disco que me fascina.

Cee-Lo e Danger Mouse trabalharam juntos numa turnê do primeiro na qual  o segundo era DJ. Trabalharam em alguns outros projetos também, como o The Mouse and the Mask do projeto DANGEROOM. Conversa vai, conversa vem, resolvem gravar juntos. Lançam, em 2006, o esplendoroso St. Elsewhere. O resultado foi um estrondoso sucesso.

Eu conheci Gnarls Barkley através de sua música mais famosa, Crazy. Essa música fez bastante sucesso e eu gostei bastante de ouvi-la em rádio, mas não sabia quem cantava. Um dia, enquanto doava sangue(!), o celular de uma enfermeira toca essa música como ringtone. Eu lhe pergunto que música é essa. Fui procurar mais sobre Gnarls Barkley (sem nem saber se era uma pessoa ou um conjunto), mas sem muitas esperanças, pois estava esperando um grupo de um sucesso só.

Não poderia estar mais enganado. Gnarls Barkley é música de primeira, um soul moderno e alternativo feito por gente muito talentosa. A voz de Cee-Lo é forte e grave, mas chega a agudos inimagináveis. A criatividade de Danger Mouse na produção é sem par. Suas letras são ótimas, também, com uma beleza dificíl de encontrar. Cada música deles que ouvi fui uma música a mais que passei a gostar: não há praticamente nenhuma música deles da qual eu não goste. Além disso, seu trabalho é cheio de um humor sutil mas visível. Conciliar música e humor é algo bastante complicado, mas eles fizeram com maestria.

Ademais, seus clipes são muito bem trabalhados, criativos, e, mais importante, significativos. Não estragam suas músicas, e suas músicas se encaixam perfeitamente neles. Como a maioria dos clipes que vejo são irrelevantes, mal feitos, bobos ou desagradáveis, é uma boa surpresa encontrar alguém que, ao fazer um clipe, o faz direito.

Agora, chega de conversa, vamos à música! Abaixo vai a já clássica Crazy:

Go Go Gadget Gospel é bonita e enérgica. Toda vez que e a ouço me bate uma vontade gigantesca de sair correndo para fazer aquelas coisas que sempre queremos fazer mais adiamos. Além disso, o clipe é uma impagável “homenagem” ao rap estadunidense atual:

Going On é uma das músicas mais bonitas que já ouvi, e é perfeitamente complementada pelo belo clipe gravado na Jamaica:

Já se você gosta de música para energizar, você precisa ouvir Run:

E, se existir um hino à felicidade, ele deve ser Smiley Faces:

El Chapulín Colorado!

Capa da Veja sobre as últimas semanas da crise estadunidense

Capa da Veja sobre a crise estadunidense

Primeiro, a Veja publica essa constrangedora capa. De primeira, nem achei tão ruim assim, achei até ousada e corajosa. Aí, eu leio a reportagem e fico vermelho de vergonha – principalmente vergonha alheia pelo jornalista. Depois, vejo o que uma revista liberal de verdade diz. Como a cereja do bolo, hoje eu leio isso no blog do Pedro Dória.

Acho que a próxima manchete de capa da Veja vai ser:

Oh, e agora, quem poderá nos defender?!

Não acredito no fim do liberalismo, não estou torcendo pela “Queda do Império” nem estou feliz pela crise. Só acho que não é preciso passar tanta vergonha quanto a Veja passou…

O cão do ausente

Você foi, para mim, tão importante

que eu não podia nem pensar em nada

sem lembrar de você, que estava em cada

pedaço do meu pensamento amante.

Separei um espaço tão gigante

da minha vida para a minha amada

que quase já não importava nada

mais para minha alma festejante.

Mas você foi-se, e a alma que sorria

minguou em compridíssima agonia

e o amor murchou de dor e de revolta.

Mas – ah! – o espaço ainda está guardado

no meu coração morto e consternado

qual cão que espera o dono que não volta…

2005

Seis de agosto, um dia triste

Ontem, dia seis de agosto, passou batido por mim, mas o Pedro Dória recordou o bombardeio Hiroshima, postando um link para um bom artigo (com imagens fortes) do 1001 Gatos de Schrödinger.

Obviamente, sou feliz pelos Aliados terem vencido a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, esses atentados são tristes não só pelo mal causado à população civil (como se não bastasse), mas porque a cada crime um país fica mais e mais parecido com estados genocidas como a Alemanha Nazista, o Japão Imperial ou a União Soviética, que também justificavam seus atos como a alternativa a um mal maior.

É triste saber que não há alternativas ao mal.

Post PPS-like do dia

Essa história eu ouvi no trabalho. O amigo que me contou disse que ouviu de um cara superconfiável, o que já reduz bastante a confiabilidade da história. De qualquer forma, é bem interessante, mesmo se não for factual.

Na linha de produção de cremes dentais de uma grande empresa, algumas caixinhas de papelão chegavam vazias, sem nenhum tubo de creme dental, às embalagens de atacado. Não era um problema sério: embora essas caixinhas cheguassem mesmo às prateleiras dos mercados, bastava o cliente deixá-las de lado e pegar outra caixinha.

Entretanto, com o advento do Código de Defesa do Consumidor, essa situação tornou-se um problema sério. A empresa, então, contratou dois engenheiros para analisar a situação e propor uma solução. Depois de um bom tempo e alguns milhões de reais gastos, os engenheiros propuseram um sistema no qual as caixinhas passariam por uma balança e, se seu peso não estivesse em uma faixa aceitável, um braço mecânico descartaria a embalagem.

Implantou-se o sistema. Depois de dois meses, foram analisar sua eficácia. As estatísticas eram bastante positivas: nenhuma caixinha vazia chegou ao final da linha de produção! Mas aí alguém nota algo bem estranho: os relatórios indicavam que o novo sistema estava desligado esse tempo todo!

Diretores procuram outros diretores que procuram gerentes que procuram supervisores… até que, enfim, vão perguntar aos funcionários se algo de estranho havia ocorrido. Um funcionário responde:

É, desligamos o sistema. Ele dava muito problema, não funcionava direito, estava reduzindo a produtividade.

Os diretores perguntam, então:

Mas, então, o que vocês fizeram para que as caixas vazias descartadas?

O funcionário fala:

Bem, nós fizemos uma vaquinha e compramos um ventilador. Agora, basta deixá-lo ligado ao fim da linha de montagem que as caixas vazias são jogadas para fora.

RA!

Essa história me parece, no mínimo, enfeitada; entretanto, a técnica faz bastante sentido e, no final, é uma boa fábuloa sobre o do-it-yourself.

Radical Rebelde Revolucionário

Eu li vários livros ótimos no final de 2007 e início de 2008. Um desses livros é Radical Rebelde Revolucionário.

Permitam-me apresentar Alex Castro. Alex Castro é um blogueiro bastante conhecido que aprecio muito. Seus textos são bastante divertidos mas provocam poderosas reflexões, além de serem muito claros. Gosto especialmente de suas idéias, liberais e libertárias em um nível que eu nem imaginava possível antes de conhecer o blogue dele.

Liberal Libertário Libertino

Liberal Libertário Libertino

Alex Castro tem três livros publicados. Desses, apenas Liberal Libertário Libertino foi impresso em papel. Provavelmente esse é seu melhor livro, pois, ao que parece, é uma coletânea mais bem trabalhada das crônicas que podem ser encontradas no site dele. Essas crônicas, assim como as prisões, são textos deliciosos de ler, cheios de humor e elegância. São, também, manifestações de idéias poderosas sobre liberdade, capazes mesmo de mudar vidas.

Entretanto, ainda não comprei Liberal Libertário Libertino porque priorizei os dois outros livros: Onde Perdemos Tudo e Radical Rebelde Revolucionário.

Onde Perdemos Tudo é uma coletânea de contos. Confesso que não gostei deste livro. Achei os contos fraquinhos e um tanto quanto pretensiosos, repetitivos e explícitos demais. Entretanto, talvez você queira dar uma chance ao livro: muita gente gostou dos contos, não seria justo confiar apenas no meu gosto. Confira os contos A Porta e A Morte do Meu Cachorro e tire suas conclusões. Dê uma olhada também em algumas resenhas.

Radical Rebelde Revolucionário é outra história. Esse insólito livro é o resultado de uma viagem de Alex Castro para Cuba. Ocorre que autor é, no momento, um mestrando na Tulane University em Nova Orleans, e sua pesquisa é sobre a escravidão na literatura latino-americana. Ele conseguiu financiamento para viajar para Cuba para aprofundar sua pesquisa. Ele foi lá, pesquisou, se divertiu pacas e, de quebra, escreveu o livro.

A primeira grande qualidade de Radical Rebelde Revolucionário é que não é um panfleto. Alex Castro é um livre pensador, e seu livro não é uma série de descrições e argumentos tentando provar que Cuba é um estado stalinista ou uma nação democrática. A Cuba de Alex Castro é humana, não ideológica. Ele não toma lado nenhum (embora ele pareça ter uma leve simpatia pelos socialistas) e observa não o ícone (do Mal ou do Bem), mas sim o país real, com seu povo, seus problemas e – por que não? – suas soluções.

Radical Rebelde Revolucionário

Radical Rebelde Revolucionário

Não bastasse ser um livro não dogmático, é uma delícia de ler. As crônicas são fluentes e muito, muito divertidas. As histórias sobre jineteiros, as peripécias do malandro Cándido, a sensualidade da bibliotecária Dolores, as descrições de tudo isso são de um humor único, quase escrachado mas extremamente realista.

Acima de tudo, Radical Rebelde Revolucionário é vivo. Lendo o livro, você quase pode vislumbrar os acontecimentos ocorrendo ali, na sua frente. Quando li a crônica que disserta, dentre outras coisas, sobre o caráter sorvetístico dos cubanos, tive de sair para comprar uma casquinha. Estou feliz por não ter me tornado fumante ao final do livro, como resultado da descrição fascinante e fascinada da indústria de charutos cubanos!

Vale destacar, porém, que o livro não foge de questões políticas, sociais e econômicas. A pobreza da ilha é bem retratada, a falta de democracia não é ignorada, problemas de abastecimento são uma constante e um lamento pela falta de dignidade da vida do cubano permeia a obra. Do mesmo modo, Alex Castro percebe em Cuba o resultado de uma revolução real, não a troca de uma elite por outra, e fascina-se com o exótico espetáculo de um país sem ricos nem miseráveis, mas só com pobres. Dada essas observações, não é de se admirar que o autor foi considerado castrista pelos anticastristas e anticastrista pelos castristas. Isso, por si só, já contaria muitos pontos para a obra.

De qualquer forma, ao menos para mim, o autor parece pouco interessado nas grandes questões políticas e sociais. Seu objetivo é entender os cubanos, seus hábitos, tradições, arte e cultura. E é isso que torna o livro inestimável: em uma zeitgeist onde Cuba é bandeira de praticamente qualquer movimento político, é reconfortante saber como são as pessoas reais desse país estranhíssimo.

Enfim, reitero minha sugestão: compre e leia o Radical Rebelde Revolucionário! Vai ser um dos melhores e mais agradáveis livros contemporâneos que você vai ler.

O filme da década ainda está para ser gravado

Estou lendo as matérias do Bob Fernandes, da Terra Magazine, sobre a prisão de Daniel Dantas. Por exemplo, a prisão em si e o momento onde o acusado promete “detonar” e “contar tudo”. Mal vejo a hora de publicarem o livro e lançarem o filme.