A não ser que algo grande aconteça, devo votar na Dilma Rousseff. Abaixo, tento apresentar as razões que levam alguém como eu, que nunca fumou crack, a ser um petralha totalitário e corrupto.
Não é um texto para pregar aos convertidos – quero falar a quem discorda de mim – nem para pregar aos hereges – senão, nem publicaria tão próximo da eleição. Não quero convencer ninguém, mas apresentar razões por que alguém como eu, membro da classe média com curso superior, emprego e algum interesse por política, votaria em Dilma Rousseff, já que muita gente se pergunta isto. Pode haver várias falhas nos meus argumentos, mas isto faz parte do projeto: aqui, não busco tanto estar certo quanto apresentar minhas ideias neste momento, por confusas que sejam. Espero, com isto, abrir um debate mais consistente e interessante.
Sou uma das poucas pessoas que votariam no José Serra por quem ele é. Quase todos os seus eleitores votam nele para tentar evitar a vitória petista. Eu, porém, considero Serra um político com história e considerável seriedade, embora o pouco que eu tenha acompanhado de seus governos paulistano e paulista pareça fraco. Acredito que ele poderia ser um bom presidente, provavelmente até melhor do que fora como governador, porque ele realmente trabalhou para chegar lá.
O que me incomoda nele é a companhia. Talvez pelo esvaziamento da oposição – os políticos opositores menores se aliaram ao governo – ele se viu obrigado a se aliar ao conservadorismo mais vocal, que se opõe acrítica e sistematicamente ao governo atual. Serra está acima dos objetivos desses grupos – mas não de sua influência. Pelo contrário: tendo o DEM como o principal coligado, cedeu a vaga de candidato a vice-presidente a Índio da Costa, um político que não está à altura do cargo e que repercute os piores preconceitos da oposição. Isso quando ficou quase certo que seu vice seria Álvaro Dias, um candidato muito mais experiente e interessante. Trocar um pelo outro – algo que me parece um dos erros políticos mais grosseiros desta eleição – mostra como a oposição mais conservadora têm um peso muito maior na chapa serrista do que eu gostaria.
Entretanto, mesmo estes aliados sabem que não há chance de vencer com seu discurso. É por isso que Serra tentou se vender como um continuador da obra de Lula – algo que ele provavelmente quer ser mesmo, mas seus coligados e eleitores repudiam. Assim, a campanha serrista tornou-se esquizofrênica, pois tenta agradar a dois grupos opostos mas apenas consegue tirar a empolgação dos eleitores que já o escolheram. Ademais, se for para manter como está, que se vote na Dilma, oras.
Serra teria uma outra cartada: seria o candidato de Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, esta vantagem não é utilizada. Se por um lado isto é razoável – Serra fazia parte de um setor mais heterodoxo do PSDB durante o governo FHC – por outro é triste porque descaracteriza o PSDB e tira de cena um intelectual importante. É compreensível: FHC é injustamente impopular, e os seus apoiadores, hoje, quase sempre se resumem a antipetistas que ignoram o projeto do ex-presidente. Entretanto, escondê-lo acaba retirando da proposta serrista algo mais que me interessaria nela. Serra paga tributo ao projeto de FHC, mas precisa esconder isso.
Se essas questões já não fossem suficientemente problemáticas para mim, a interação entre elas piora a situação. A campanha serrista é puxada pelas três tendências – a fúria oposicionista, a máscara lulista e a herança de FHC – e o resultado é um remendo contraditório. Vendo o material de campanha de Serra, o que se pode esperar de seu governo? Não há consistência ali, então não dá para saber em que eu estaria votando. A única razão pela qual eu votaria no Serra, nesse contexto, seria acreditar que o pior que pode acontecer é o PT continuar no poder. E acredito justamente no oposto.
Dilma Rousseff
Também sou uma das poucas pessoas que teriam votado em Dilma devido a seus supostos defeitos… se ela tivesse se candidatado antes.
Por exemplo, muitas pessoas não confiam em Dilma porque ela não era política, mas técnica. Ela seria uma “candidata fabricada”, sem histórico, talvez até uma marionete de Lula. Em outros tempos, porém, o fato de Dilma ser nova no páreo me agradaria: afinal, eu queria votar em alguém novo para “trocar quem está aí”. Dilma seria ideal também porque é técnica: sempre tive curiosidade de ver um administrador público de carreira ascender a postos-chave, no lugar de políticos por vezes incompetentes tecnicamente, mas politicamente hábeis.
Há quem acuse a candidata petista de ser autoritária e antipática, especialmente devido a conflitos que entre ela e subordinados. Novamente, há algum tempo isto contaria pontos a favor comigo: se alguém assume um cargo de grande responsabilidade deve não só estar disposto a ser pressionado como também deve ser cobrado com rigor! Na esfera pública mais ampla, o autoritarismo oscila entre o inadequado (posto que é preciso criar arranjos políticos) e o inaceitável (caso se volte contra a sociedade civil); nos gabinetes, que se use toda autoridade e rudeza necessária.
Hoje, já não penso tanto assim. No que tange aos modos duros de Dilma, ainda acredito que é preciso ser enérgico, às vezes, mas isto não ganharia meu voto. Já o desejo por ver um técnico ascender, não o alimento mais, ao menos não significativamente, porque acredito que a habilidade política é importante. Por muito tempo tive em má conta as chamadas “indicações políticas”, e até hoje algumas me embrulham o estômago (como no caso dos loteamentos de cargos para obtenção de apoio), mas nada supera os resultados de um bom político.
Considere, por exemplo, a economia. Lembro-me bem da vida até 1994: é difícil explicar para um adolescente de hoje como seria viver sob uma inflação de centena de milhares de pontos percentuais por ano. Felizmente, durante o governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso coordenou uma talentosa e ousada equipe de técnicos em uma das maiores obras de engenharia econômica da história: o Plano Real. Como prêmio merecido por seu trabalho, Fernando Henrique se tornou presidente em 1995. Entretanto, nem Itamar nem FHC eram técnicos, mas políticos que tiveram tanto o tino quanto a sorte de escolher bons quadros para amarrar o dragão. Hoje se vende, compreensivelmente até, Fernando Henrique como um técnico, mas ele é muito mais um pensador corajoso e um político hábil que um engenheiro econômico.
Se esse exemplo não bastasse, bastaria lembrar que quando Lula – alguém que definitivamente não é técnico – chegou a o poder, colocou no Banco Central nada menos que o tucano Henrique Meirelles. Se uma das perguntas que Meirelles respondia diariamente no BC fosse feita ao Lula, provavelmente a resposta oscilaria entre um desejável “não sei” e uma afirmação descabida, mas eu não esperaria uma boa resposta de Lula. Assim como espero do empresário da construção que contrate o melhor engenheiro, espero do presidente que escolha o menor ministro.
Se esses dois aspectos de Dilma, que teriam lhe dado meu voto no passado mas hoje não influenciam tanto minha opinião, não são o que guia meu voto, por que pretendo elegê-la?
Luiz Inácio Lula da Silva
A primeira razão é que o Brasil vai bem e posso esperar de Dilma uma continuidade da obra de Lula: economia estável e o combate à pobreza e à desigualdade social. A estabilidade econômica, creio, estaria garantida em qualquer governo, porque está institucionalizada. (Curiosamente, um dos mecanismos desta estabilidade mais defendidos entre os economistas – a independência do Banco Central – estaria mais garantido sob Dilma que sob Serra, que mesmo durante a era FHC mostrava incômodo com isso e já deu sinais que interferiria hoje em dia. Acho que vale o debate, mas a princípio discordo de Serra.) Desde que o PT parou de defender absurdos e compreendeu que a obra tucana na economia deveria não só ser mantida como fortalecida, não há um risco sério neste sentido.
A razão mais significativa para votar em Dilma, portanto, é a continuação do trabalho social do governo, que estaria sob ameaça – mas não necessariamente se extinguiria – em um governo da oposição. Um exemplo é o programa Bolsa-Família. Eu poderia falar sobre por que ele é um excelente programa, mas não poderia fazer melhor do que já fizeram. Felizmente, mesmo os setores mais razoáveis da oposição compreenderam a importância desse programa (não só já não dizem mais que é mais esmola como declaram que foi criado por FHC!), mas ainda há muito preconceito, em certos grupos da sociedade e da oposição, contra esse tipo de empreitada. Basta ver o que disse a esposa de Serra. Por isso, é necessário que o próximo governo institucionalize o combate à pobreza e à desigualdade, assim como FHC institucionalizou a estabilidade econômica. É preciso que as críticas mais impensadas sejam tão aceitáveis quanto as propostas para a economia do PSTU. É preciso que se entenda, de uma vez por todas, que é preciso vencer a miséria, agora, já, afobadamente e, infelizmente, o único candidato que deixa isso claro é Dilma.
(Cito o Bolsa-Família porque é o exemplo mais unânime e evidente, mas muito mais foi feito no governo Lula. Esta moça pode falar algo mais.)
Sejamos justos, porém: houve muita coisa errada durante o governo Lula. Infelizmente, porém, as críticas mais populares são, em minha opinião, as mais inapropriadas. Embora eu não esteja votando em Lula, agora, mas em Dilma, sou constantemente questionado sobre essas críticas, o que não deixa de ser justo. Assim, tento sumarizar a sabatina abaixo.
Não encontro amparo na realidade para nenhum destes epítetos. Durante muito tempo, afirmou-se que Lula pretendia alterar a constituição para obter o seg… digo, terceiro mandato, à moda de Chávez. Felizmente, isto não aconteceu; infelizmente, a oposição não mudou o discurso.
Por exemplo, um amigo meu falou que a candidatura de Dilma Rousseff era ilegal porque ela seria apenas um proxy de Lula, já que só entrou na vida política pública mais recentemente. A afirmação é absurda, primeiro, porque, como qualquer cidadão, Dilma tem direito a se candidatar e, segundo, porque Dilma tem uma história e personalidade próprias, bem marcantes, por sinal. As propostas são bem semelhantes às de Lula, mas isto é natural, já que são do mesmo partido; a diferença deve aparecer na maneira como agirá ante os problemas de seu mandato.
Enfim, não existe ilegalidade, nem formal, nem no espírito da lei, na candidatura de Dilma; só crê nisso quem não consegue aceitar que Lula não é chavista. Em certo sentido, este seria o desejo da oposição – quão mais fácil seria se opor a Chávez! – mas Lula não alterou a Constituição, não tentou um terceiro mandato nem tomou nenhuma das medidas autocráticas do venezuelano. O que ele deveria fazer para não ser chavista? Não propor um sucessor? Enfim, não há suporte concreto à tese do chavismo lulista, e a oposição inteligente já superou essa enrolação
Independentemente de estarem certos ou errados, isto não aconteceria se houvesse censura
Novamente, nenhum fato indica isto. Jornal algum foi fechado, nenhum jornalista perdeu a cabeça, programa algum foi impedido de ir ao ar, reportagem alguma foi proibida. Pelo contrário, a imprensa nunca foi tão corajosa e ousada. Infelizmente, em alguns momentos esta ousadia levou a afirmações moralmente duvidosas e certa queda de qualidade. Tudo bem, acontece, faz parte do jogo. Da parte do governo, o importante foi feito: não houve interdição do Estado sobre os órgãos de imprensa.
Não que eu concorde com todos os pontos do governo. Por exemplo, considero muitas das ideias mais ventiladas na Confecon antidemocráticas. Também considero danosa à democracia a regulamentação da profissão de jornalista, por exemplo. Não sei se ambas as propostas fazem parte do programa do governo, mas faria todo sentido se fizessem: a militância petista, intimamente ligada a movimentos sociais, e o próprio partido, trabalhista e portanto regulamentador, parecem ter o perfil de quem as defenderia.
Entretanto, apesar de me opor às propostas, não as considero totalitárias. Permita-me compará-las com a Lei Cidade Limpa, que proíbe publicidade externa na cidade de São Paulo. Uma lei que proíba propaganda é anticapitalista, em certo sentido – mas esta lei não é, de maneira alguma, uma ameaça ao capitalismo. Apesar de eu acreditar que o capitalismo é uma boa forma de produção, e julgar que, por exemplo, o dono de um terreno tem o direito de pôr um outdoor na sua área, não vejo nesta lei algo totalitário, e estou aberto a discuti-la e, talvez, até apoiá-la. Vejo o mesmo nestas propostas: não são uma ameaça a democracia, embora não favoreçam o tipo de liberdade que eu defendo. Há países democráticos com conselhos de jornalismo (a França, creio, é um exemplo) e defender o “papel social da comunicação” é algo perfeitamente aceitável em um país com liberdade de expressão. Como considero as propostas ruins mas discutíveis e, ainda por cima, que muitas estão mais relacionadas à militância ou ao Legislativo, não vejo aí um argumento suficiente para mudar meu voto.
Por fim, acusa-se o Lula de perseguir e censurar a imprensa por criticá-la. Apesar de concordar que os discursos do presidente frequentemente não usam o tom adequado, francamente nunca vi uma crítica que fosse inválida. O presidente, como qualquer cidadão, não precisa ficar calado, tem todo o direito de emitir sua opinião. Pessoalmente, acredito que falar mal da imprensa é algo que deve ser evitado – isto merece uma postagem inteira, que pretendo fazer – mas não é crime e definitivamente não é antidemocrático, no geral. Agora, estou disposto a discutir esta ou aquela crítica – absurdo é criticar o ato de criticar.
Dentre as críticas que ouço, esta é uma das mais justas. Até 2002, o Partido dos Trabalhadores arvorava-se como um luminar de ética. A moralização da política era constante em seu discurso. Chegando ao poder, porém, a corrupção persistiu. Nada mais justo que não votar em um partido que não cumpriu sua promessa.
Entretanto, diz-se que a corrupção nunca vicejou tanto quanto durante o governo Lula. Isto eu não posso avaliar – hoje há mais transparência justamente porque não havia tanta antes – mas duvido muito. Se não posso analisar a corrupção, ao menos pode-se avaliar a atuação repressora. Mais ações da Polícia Federal ocorrem, mais acusações são julgadas, a imprensa faz marcação cerrada, a Procuradoria-Geral da República está mais atuante, o Tribunal de Contas da União mais visível…
É verdade, porém, que o Executivo, no geral, não conseguiu mudar o quadro da maneira que esperávamos. Por um lado, isto é triste porque o era o que mais queríamos do governo Lula. A corrupção no governo Lula, se pode não ter sido pior que antes (eu suspeito que não foi), foi muito maior do que esperávamos, ainda mais considerando a imagem de “bastião da ética” do PT pré-2002. Por outro lado, foi o fim da inocência, e o resultado foi a superação de uma fase ingênua da política brasileira, levando-nos a uma política pós-ética onde não há santos e as propostas devem amadurecer.
Entretanto, aprendi que mudar o Executivo não combate a corrupção. Muito mais relevante para esse combate é um Judiciário funcional e um Legislativo atuante. O primeiro, vimos conseguindo: os projetos do Conselho Nacional de Justiça, embora não os acompanhe de perto, parecem muito positivos. Já o segundo é um problema maior, pois divide-se, em grande parte, em situacionistas comprados e oposicionistas incompetentes. Não tenho resposta para esse problema – não tenho resposta para nenhum problema, aliás. Entretanto, podemos começar escolhendo gente mais competente que histérica, para a oposição, ou, se quem apoia o governo, escolhendo candidatos com bandeiras ideológicas mais claras. É muito pouco, e aceito ideias mais efetivas, mas é o que se pode fazer.
Quanto ao PT, errou ao prometer extinguir a corrupção sem poder fazê-lo e ao ignorar, como bom partido com bases marxistas, que pessoas respondem a incentivos. Apesar disto, e justamente porque aprendi que o buraco é mais embaixo, não mudo meu voto.
Renan Calheiros
Este é outro excelente ponto. Os membros do Partido dos Trabalhadores se vendiam como intrinsecamente diferente destes políticos – e de fato eram, até chegar ao poder. Entretanto, alçados à presidência, aliaram-se a eles.
Se a corrupção durante o governo Lula desceu a seco, este tipo de aliança é muito mais compreensível. Necessário até, eu diria. Considere, por exemplo, Renan Calheiros. Se foi incômodo vê-lo como Presidente do Senado defendendo Lula, que dizer de tê-lo como Ministro da Justiça durante o governo de Fernando Henrique? Aqui, não quero apontar a “hipocrisia” da crítica, mas o fato de que política é a arte do possível, e é preciso se aliar, sim, a pessoas que não nos agradam. Um candidato perderia meu voto por ser Renan Calheiros – mas não por se aliar a Renan Calheiros.
Na verdade, este não é um fenômeno brasileiro. No Reino Unido, por exemplo, recentemente os liberais-democratas (que tiveram um papel vagamente semelhante ao PV na eleição atual) se aliaram aos tories conservadores. Em Israel, o Likud fez aliança com o Israel Beiteinu de Avigdor Lieberman – que sofreu, inclusive, acusações sérias de corrupção. Mais exemplos ainda podem ser citados. Muita gente toma como parâmetro para o Brasil a estrutura política estadunidense que, por ter apenas dois partidos relevantes, torna desnecessária e inviabiliza alianças boa parte das vezes. Entretanto, este regime bipartidário é totalmente excepcional nas democracias modernas, e não deixa de ter seus próprios problemas.
Enfim, alianças, incluindo alianças feias, são um preço a se pagar pela democracia. Ademais, ainda acho que há muito a se refletir sobre estes políticos pouco ideológicos das alianças governistas. Por exemplo, eles desaceleram o avanço do partido governista, permitindo reflexão e contendo a implantação de uma ideologia. Também trazem à tona temas locais. Sem contar que viabilizam a governabilidade. Enfim, como disse um comentarista do Na Prática a Teoria é Outra, “o PMDB é como arroz: todo mundo fala mal, reclama, mas quando não está lá, faz falta”.
A política externa brasileira é um dos temas mais martelados pela oposição, justamente por ser um dos mais complexos e, portanto distorcíveis. Notadamente, neste aspecto, discordo completamente de quase todas as críticas.
Acusa-se o governo, por exemplo, de apoiar as FARCs. A primeira vista, a acusação parece fazer sentido, posto que realmente houve contatos concretos entre o PT e o grupo guerrilheiro no meio da década passada. Entretanto, pensando um pouco, a tese é absurda: se isso fosse verdade, estaríamos em guerra com a Colômbia, sendo invadidos por marines. O que temos, porém? Juan Manuel Santos vêm ao Brasil fechar parcerias comerciais e os jornalistas brasileiros perguntam-lhe sobre as FARCs. A antiga aproximação do PT com as FARCs é bem incômoda, de fato, mas não há sinal de que levaria a fatos concretos. De qualquer forma, eu já não votaria no PT de 1994 pelo que ele dizia do Plano Real, mesmo.
Também se diz muito o Brasil privilegia regimes totalitários porque mantém relação com eles. Entretanto, não vejo evidências de que o Brasil pretere democracias em favor de ditaduras. O que ocorre é que o Brasil mantém relações diplomáticas com países não alinhados aos interesses europeus e norte-americanos – mas também não rompe com as potências europeias e os Estados Unidos – e vários destes países estão sob regimes autocráticos. De fato, nunca se vê críticas contra relações com China e Arábia Saudita, por exemplo.
Isto não pode…
É sintomático que o exemplo mais popular dessa suposta preferência do governo Lula por governos autocráticos seja a participação do Brasil nas negociações com o Irã sobre inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. A maioria das pessoas que falam sobre isso geralmente sabem muito pouco – especialmente porque essa questão é incrivelmente complicada. De qualquer forma, explicar minha (irrelevante) opinião sobre esse caso levaria uma postagem inteira, ainda maior. Posso resumir dizendo que nem as potências europeias e americana sabem bem como conseguir o que querem, pois suas acusações perderam força depois da Guerra do Iraque e o Irã tem justificações legais razoáveis – resumindo grosseiramente, estão tentando forçar Teerã a adotar restrições que não são impostas por acordo algum já assinado. O Brasil, que já tinha relações diplomáticas razoáveis com o Irã, participou como intermediário nas negociações – um papel que alguém deveria fazer e que o Brasil fez bem. A proposta brasileira infelizmente não resolveu a questão, mas como ninguém está conseguindo resolver, esse é o menor dos problemas. O que há, afinal, é discordância sobre o método, não sobre o objetivo. (Sobre este tema, recomendo vivamente o blogue do Maurício Santoro.)
Todos os países mantém relações com governos totalitários. O rei Abdala da Arábia Saudita foi recebido na Casa Branca. Israel tentou negociar armas nucleares com o governo do apartheid, mantém relações com o Egito e já tentou normalizar sua relação com a Síria. A França apoiava – e provavelmente ainda apoia – ditaduras em suas antigas colônias. Novamente, não estou criticando a “hipocrisia”, que é do jogo, mas fazendo notar que é usual, necessário e, frequentemente, até salutar não romper relações diplomáticas com regimes não democráticos. Neste contexto, o Brasil empreende ações muito positivas. Há quem julgue que é imoral mante relações diplomáticas com regimes autocráticos – exceto as “indispensáveis” – porque isso sustentaria os regimes autoritário. Entretanto, virar o rosto ao problema não o resolve de maneira alguma, e, julgo, relações culturais e comerciais são muito mais efetivas – embora mais lentas – na luta pela democracia que sanções e conflitos bélicos.
Outra ideia corrente é a de que o Brasil, em um ato de “rebeldia adolescente” teria se “rebelado” contra os Estados Unidos e se “subordinado” aos regimes bolivarianos (Venezuela, Equador etc.) Apenas uma visão distorcida na qual o Brasil tem de ser subalterno justificaria essa hipótese. Para começar, o Brasil é nação soberana e se relaciona com tanto com os EUA quanto com os países sul-americanos, e há divergências entre ambos. Parte dessa impressão provavelmente se deve também à maneira como alguns conflitos (a tomada de bens da Petrobrás pela Bolívia, as ameaças de moratória do Equador e a renegociação do preço da energia de Itaipu com o Paraguai) foram resolvidos: sem grandes protestos. Eu acho que foram boas soluções: os negócios brasileiros na Bolívia e no Equador retomaram o rumo usual, até onde me consta. A negociação com o Paraguai, na qual o Brasil foi generoso, também me parece positiva: o Paraguai já fez concessões ao Brasil e o resultado para a influência brasileira na América Latina pode ser muito bom. (Ademais, um esclarecimento: o Brasil não pagou sozinho por Itaipu)
Celso Amorim
Uma consequência lamentável – felizmente, mais restrita – destas críticas pouco informadas é a acusação de que o ministro Celso Amorim seria algo entre um megalomaníaco, um fraco e um ditador. Quem o afirma, porém, ignora ou omite que Celso Amorim, como qualquer diplomata brasileiro, não ascendeu agora: fora inclusive ministro durante o governo Itamar Franco e trabalhou em postos-chave durante o governo FHC. Confesso que não conheço muito de seu trabalho, mas o pouco que conheço me faz admirá-lo bastante. E, francamente, se Fernando Henrique o aproveitou, estou certo que é um grande profissional. Se até o David Rothkopf – que deve discordar muito do chanceler – concorda que Amorim faz um bom trabalho, exijo evidências muito fortes da incompetência do ministro, e não as conheço.
No final das contas, a política externa brasileira está mais polêmica, mas também mais assertiva, independente, relevante e global. Ao contrário da crença usual em certos círculos, o Brasil não é ridicularizado no exterior. O Brasil parou de ser sinônimo de carnaval, mulher bonita e futebol para significar etanol, economia crescente, estabilidade política. Se não acredita em mim, pergunte a The Economist.
Recentemente, levantou-se a tese de que o PT apalheraria o Estado, colocando membros do partido em postos-chave, formando um poder paralelo. Esta acusação me parece, francamente, absurda: não é que não esteja certa, ela não está nem errada. Se o partido venceu as eleições, ele tem todo o direito de colocar membros nos cargos mais relevantes – sempre foi assim. Não só tem o direito, como é uma boa ideia: um partido que ganhe uma eleição tem, presume-se, um programa e uma ideologia que foram escolhidos pelo povo, e as melhores pessoas para implantar o programa são justamente as que o idealizaram – os membros do partido.
A crítica é tão ruim que fala de um ponto em que o PT se destaca positivamente. Os altos postos do governo petista incluíram gente como Ciro Gomes e Henrique Meirelles, opositores de Lula. Dilma Rousseff é outro exemplo: técnica que cresceu subindo na hierarquia burocrática, foi fundadora do PDT de Brizola após a redemocratização. Entretanto, apesar de não ser petista, Lula alçou-a a Ministra de Minas e Energia, contra todas as expectativas, para aproveitar sua experiência como secretária no Rio Grande do Sul. Isto é o oposto de aparelhamento.
(Meu comentário foi bem curto; o tema é explorado com muito mais talento pelo Celso de Barros. Aliás, o Na Prática a Teoria é Outra é um dos melhores blogues políticos do Brasil, recomendo-o vivamente.)
Por fim, uma crítica que não se aplica diretamente ao governo Lula, mas à candidata. É, finalmente uma.
É usual que chame Dilma de “terrorista” por sua participação no VAR-Palmares. Embora hoje em dia seja unânime que a luta armada foi um erro tático e haja certo consenso de que estes grupos não eram democráticos, a tese de “terrorismo”, ao menos nos casos citados contra Dilma, não me convence. Basicamente, “terrorismo” é um conceito tão vago, político e carregado que não há consenso internacional sobre o que seria. Eu, porém, não chamaria um ataque a alvos não-civis de terrorismo – e não houve ataques a alvos civis entre as ações que se atribuem, controversamente, ao grupo de Dilma, até onde percebi. Francamente, se a segunda ementa da Constituição Americana defende o direito à resistência armada a um regime autoritário, embora haja sim muitos detalhes e nuanças, não considero Dilma terrorista.
Menahem Begin
De qualquer forma, por mais que terrorismo seja um crime repulsivo, eu votaria em um terrorista que tivesse pagado sua dívida com a sociedade e se mostrasse competente e necessário. Eles podem não só ser bons políticos, mas também ser bons políticos conciliadores. Por exemplo, Menahem Begin liderava o Irgun à época do atentado ao Hotel King David. Apesar disto, veio a se tornar primeiro-ministro de Israel e teve um papel crucial nos acordos de paz de Camp David, com o Egito. Outro exemplo é Nelson Mandela, que passou vinte e seis anos preso por ataques armados e sabotagem mas que, após o fim do apartheid, tornou-se personagem importantíssimo da reconciliação sul-africana. Novamente, não considero Dilma Rousseff terrorista – mas se considerasse, poderia cogitar votar nela apesar de seu crime, dados os exemplos no exterior.
Se a maior parte das críticas que ouço não me convencem a votar na oposição, a preponderância de críticas tão fracas me convence a não votar na oposição.
O Brasil melhorou muito, graças a uma série de governos competentes que começou com Itamar Franco. O PSDB salvou o país com o Plano Real, contra a oposição absurda de um Partido dos Trabalhadores desnorteado e sem propostas. Merecidamente, o PT foi humilhado duas vezes nas urnas – e aprendeu com isto: em 2002, apresenta-se como o partido do diálogo, da mudança consciente e da superação do já desgastado modelo de governo de FHC, e ganhou. Aprendendo a respeitar os avanços de Fernando Henrique, foi investir no social, primeiro meio desengonçadamente, com o Programa Fome Zero, depois mais consistentemente, com o Bolsa-Família, uma ideia de Cristóvam Buarque timidamente experimentada por FHC no final do seu governo. O PT tomou diversos programas, os uniu no Bolsa-Família, aumentou a escala e o valor, exigiu contrapartidas e o resultado foi redução da miséria e aplausos, mesmo por órgãos como o Banco Mundial. Nas relações internacionais, o Brasil diversificou os parceiros, adquiriu relevância e independência. A economia cresce pouco, mas surpreendeu, permanecendo estabilíssima durante a crise de 2008.
Assim, o papel se inverteu. Na incapacidade de criticar a competência do governo, a oposição refestela em críticas sem fundamento e suposições absurdas. Enquanto jornais e revistas, corretamente, atacam o governo, fala-se de censura; se antes se dizia que havia censura, na falta de exemplo consistente, hoje dizem que vai haver. Passaram anos acusando Lula de querer concorrer ao terceiro mandato e, quando ele não o fez, ficaram perdidos – chegam até a dizer que eleger seu sucessor é ilegal! Agora vêm com a tese de aparelhamento, porque o partido simplesmente governa com membros do partido! Acusavam o Bolsa-Família de eleitoreiro, populista mas, ditante da aprovação avassaladora, decidiram que são os “pais” do programa. Recusam-se a distinguir relações diplomáticas de apoio a regimes. Decidiram que votar, levando em conta a economia, agora, seria errado: o “votar pelo bolso” é sinal de ignorância, agora. Se lembrarem, porém, que a estabilidade econômica se deve a FHC, aí tudo bem, pode votar pelo bolso. Enfim, na incapacidade de superar o PT em propostas, tentam criar um espantalho à altura de sua competência – como fizera o próprio PT até 2002.
Eu não votaria no PT de 1994, não votaria no PT de 1998 – e não vou votar nesta oposição que depende de farsas, incapaz de criticar o que precisa ser criticado e de construir programas e propostas necessárias. É uma pena que seja assim: nós precisamos de uma oposição que aponte problemas reais, que proponha alternativas de qualidade, que fiscalize, mas fiscalize o que de fato existe. Infelizmente, porém, para cada Erenice Guerra denunciada temos dezenas de artigos sobre censura inexistente, centenas de discursos sobre polícia secreta tão secreta que ninguém viu.
Isto vai melhorar: se o PT aprendeu em oito anos de humilhação que é preciso ser maduro, o PSDB e aliados devem aprender em doze, se Dilma ganhar. Há gente boa lá, que está sufocada ou que se deixa levar pelo discurso paranoico, mas quando o alto escalão velho der espaço – e é o que deve ocorrer se Serra perder – um novo debate surgirá, uma oposição séria nascerá. Aí, sim, haverá grandes chances de levar meu voto.
Marina Silva
Notadamente, não falei de Marina Silva. É uma política competente, honesta e com história. Se eu fico satisfeito com a continuidade, ela certamente é uma boa escolha.
A maioria das pessoas que li dizem que não votam nela por sua posição quanto ao aborto e por ser criacionista. Eu já não sou tão categórico: se houvesse razões suficientes para votar nela, eu votaria, apesar destas posições. Ocorre que ela não tem muito a oferecer para mim. Como expliquei, não creio que ela possa mudar drasticamente a realidade brasileira no que tange à corrupção. Ela é menos experiente, então teria de gastar tempo adquirindo a experiência que o PT já obteve. Ela teria de fazer alianças – e isto implica em conversas incômodas com gente suspeita. Enfim, a ideia de que ela seria diferente não me atrai – e, se me atraísse, ficaria decepcionado ao ver o que ela provavelmente não seria tão diversa. É bom que ela esteja aí, no melhor dos mundos formará uma boa oposição, mas por ora é apenas um amontoado de boas intenções.
Agora, que seria muito interessante vê-la no segundo turno com a Dilma, seria.
Segundo adendo: tudo dará certo
Apesar de votar em Dilma, acredito que ambos os três principais candidatos são competentes, responsáveis e sérios. Estou muito feliz por esta eleição, por ter tão bons candidatos. Para um país que teve de depôr um presidente logo após o fim da ditadura, é uma evolução e tanto. Posso desaprovar muita coisa na oposição, mas sei que nunca nos afundariam economicamente ou desceriam aos níveis de má gestão de um Sarney, por exemplo. Então, se Serra ganhar, parabéns! Bom governo, amigo, mas se decida sobre o que quer fazer.
Uma pergunta de um amigo:
Não entendo como alguém que foi a coordenadora responsável por energia durante o maior apagão nacional da história do Brasil pode ser considerada uma boa técnica, mas enfim…
Bom ponto, que infelizmente esqueci de comentar.
Eu não tenho tanto conhecimento para analisar os detalhes técnicos, mas minha visão geral é a seguinte.
Quando Dilma foi secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, o estado tinha sérios problemas com blackouts, mas ela conseguiu superar o problema e aumentar a capacidade de atendimento do estado. No ministério mesmo, ela foi responsável por transmitir confiança a investidores e incentivou um modelo menos estatizante para o setor elétrico. Há gente séria que diz que ela foi responsável por evitar um novo apagão; eu acredito, mas aí meu conhecimento técnico não alcança.
É interessante notar que Dilma ser Ministra de Minas e Energia logo no começo do governo Lula era algo inimaginável. Luiz Pinguelli Rosa já era dado como certo e, mesmo se não fosse ministro, já havia aliados cooptados de olho em tão importante ministério. Acabou, porém, que em algumas reuniões Dilma mostrou tanta praticidade e experiência que Lula investigou melhor sobre ela e decidiu, contra todas as expectativas, que ela seria a ministra. Como citei acima, é outro curioso exemplo de não-aparelhamento: Lula preteriu alguém de sua base em favor de uma gestora com histórico de competência técnica recém-saída do PDT, partido que, à época, ao menos no Rio Grande do Sul, não fazia parte da base aliada do PT.
Uma excelente referência neste ponto em especial, e sobre Dilma em geral, é esta reportagem da Piauí.
Mas ainda há uma questão: o blecaute de 2009. Se Dilma foi tão boa ministra assim, como pôde ocorrer?
Falta-me conhecimento para analisá-lo tecnicamente, mas vou tentar fazê-lo com o pouco que compreendi. Aparentemente, a rede elétrica brasileira foi feita para, em caso de falha de um gerador, outro (como Itaipu Binacional) assuma. Entretanto, a flexibilidade cobra seu preço em maior risco: problemas podem se propagar facilmente por este sistema. Foi isto que aconteceu: um problema localizado cortou o fornecimento por um canal, a requisição de energia foi por outro para Itaipu, que se sobrecarregou e se desligou, por segurança. (Se você tiver encontrado algum engano no que eu disse, por favor, avise-me!)
Vale a pena manter essa flexibilidade ante o risco? Não sei. De qualquer forma, esta arquitetura deve ser anterior não só a Lula, mas a FHC, Itamar… Deve ser uma estrutura antiga e com suas vantagens. Uma boa solução, chuto, deve ser aumentar o número de geradores, o que, creio, deve estar acontecendo (ao menos estão tentando fazer Belo Monte…), mas não confie na minha consultoria para projetar seu sistema energético nacional particular.
Este tipo de blackout é incomum, anormal ou excepcional? Dada a lista de blecautes da Wikipédia, acredito que não. Aliás, isto acontece até em países preparadíssimos, basta lembrar do blecaute de Nova Iorque. O do Brasil se compara com esse de Nova Iorque? Pode-se dizer que foi tão “azarado” quanto este? Francamente, não sei, mas como problemas sempre acontecem, confesso que não fiquei chocado.
Aliás, que fique claro que não estou negando que o Brasil tem problemas estruturais seriíssimos nesta área. Só não julgo, a partir do pouco que sei, que o que ocorreu foi culpa, necessariamente, de Dilma. Sobre o blecaute, uma boa referência é este artigo da Folha. Na verdade, o jornal tem praticamente um portal inteiro sobre o assunto; confesso que não o explorei, mas fica a dica.
Plínio de Arruda Sampaio
Minha irmã me perguntou, por sua vez, porque nem sequer menciono o Plínio de Arruda Sampaio.
Plínio, foi, provavelmente, o candidato mais empolgante desta eleição, para o bem ou para o mal. É um grande orador e acrescentou aos debates um dinamismo que os outros candidatos queriam evitar: ele falou umas boas verdades, pressionou os demais e pôs temas incômodos na mesa. Entretanto, suas propostas políticas são perigosíssimas: Plínio ainda está alinhado à esquerda anterior à queda do Muro de Berlim, acredita no socialismo à moda antiga que, julgo, é não só ineficiente mas também perigoso para a sociedade. Ele mostra pouca disposição a negociar e propõe interferir na economia de maneira drástica, com, por exemplo, aumentos inviáveis de salário mínimo, estatizações, moratória da dívida pública etc.
Plínio é o mais carismático dos candidatos, é inteligente, dinâmico, dá até vontade de conhecer pessoalmente; infelizmente, é o único candidato, dentre os grandes, cujas propostas eu considero francamente inaceitáveis. Deve ser um bom polemista, se estiver sob controle; o problema é se ele estiver no controle.
Comentaram no Google Buzz, sobre o Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos do governo:
é praticamente o AI-6!!
Também mandaram o link para este vídeo, criticando o programa.
Eu não li o PNDH-3, então não posso julgá-lo. Entretanto, o plano não é, de maneira alguma, um Ato Institucional, (ou mesmo um decreto, como diz o Ives Gandra no vídeo) porque os Atos Institucionais tinham aplicação imediata, enquanto um Programa como o PNDH não é sequer aplicado: indica apenas posições do governo que, se forem levadas em frente, serão, creio, em forma de leis que terão de passar pelo Congresso.
De qualquer forma, pelo pouco que ouvi falar, há muita coisa do que discordo frontalmente, e outros pontos sobre os quais eu discutiria. Entretanto, mesmo os pontos mais extremos (dos quais apenas ouvi falar, ressalte-se) não são novidade: a base do PT (sindicatos, movimentos sociais, ONGs etc.) defendem posições como as apresentadas já há tempo. Se a dinâmica da política permitiu que muitas destas posições fossem detidas ou suavizadas, não tenho por que temer um documento com posições que já conheço.
Enfim, o texto ficou gigantesco, me tirou mais de um mês de dedicação e me impediu de analisar candidatos à Câmara Legislativa do Distrito Federal. Deve haver muita coisa errada nele, mas o importante é que eu consiga montar um retrato do que creio. Espero que, se não concordarem, ao menos gostem. Qualquer coisa, é só comentar.