Vi no Jornal do Senado (assine aqui) uma notícia que me deixou triste: o ex-senador Artur da Távola faleceu.
Paulo Alberto Monteiro de Barros – nome de batismo de Artur da Távola – era jornalista e escritor, além de político. Começou sua vida política em 1960, elegendo-se deputado estadual do antigo estado da Guanabara pelo PTN. Em 1962, elegeu-se depudado constituinte pelo PTB, mas foi caçado pelo Regime Militar, exilando-se, de 1964 a 1968, na Bolívia e no Chile. Durante a redemocratização, foi um dos fundadores do PSDB e líder da bancada do partido na Assembléia Constituinte de 1988. Foi também deputado federal de 1987 a 1995 e senador de 1995 a 2003.
Eu o conhecia através seu programa na TV Senado, Quem Tem Medo de Mùsica Clássica? Não conheço muito de sua obra política, mas como apresentador e professor, ele era fascinante. Esbanjava conhecimento e carisma em cada um dos episódios, que terminavam sempre com a seguinte frase:
Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.
Artur da Távola faleceu na última sexta-feira, dia 9. Ele já vinha sofrendo de problemas cardíacos desde de agosto de 2007.
Nota: muita gente chegou aqui digitando “Artur da Távora” nos mecanismos de busca. Bem, foi tanto um erro meu quanto um engano nas pesquisas deles. O nome correto é “Artur da Távola”.
Quando eu era adolescente, ouvia muito rádio. Uma das minhas rádios preferidas era a Antena 1, uma rádio de músicas estrangeiras dos anos 80 e início dos anos 90, num estilo romântico e popular. A Antena 1 raramente dizia os nomes das músicas que tocava, de modo que eu, que nem inglês sabia, nunca conseguia encontrar referências sobre os artistas e suas canções.
Há mais ou menos um ano, estava na lanchonete Giraffa’s da quadra 210 Norte quando vejo um clipe de uma dessas músicas que eu gostava, mas sobre as quais pouco sabia. Foi quando descobri The Housemartins.
Da esquerda para a direita: Dave Hemingway, Paul Heaton, Norman Cook, Stan Cullimore
The Housemartins é uma simpática banda inglesa da década de 80. Foi fundada em 1983, na cidade de Kingston upon Hull, quando o vocalista e guitarrista Paul Heaton colocou um anúncio na frente de sua casa convidando interessados em formar uma banda. Candidataram-se o guitarrista Stan Cullimore, o baixista Ted Key e o percursionista Chris Lang. Em 1985, Norman Cook, hoje conhecido como Fatboy Slim, veio a trocar de lugar com Ted Key; algum tempo depois, Chris Lang foi substituído por Hugh Whitaker.
O primeiro grande sucesso do grupo foi Happy Hour. Em 1986, essa música chegou a ser a terceira nas paradas musicais do Reino Unido. No fim desse mesmo ano, lançaram uma versão a capella de Caravan of Love, do grupo Isley Jasper Isley. A música alcançou o primeiro lugar nas paradas musicais, mas foi relativamente malvista entre os fãs, que apreciavam mais o estilo anterior, mais semelhante aos The Smiths. De qualquer forma, em novembro 1987 lançaram o singleBuild, que é a minha música preferida dentre as deles. Essa canção fez muito sucesso no Brasil, pois foi trilha sonora da novela Bebê à Bordo, da TV Globo; ganhou, por razões evidentes, o infame apelido de “melô do papel”. No Reino Unido, porém, a música alcançou apenas a décima-quinta posição entre as mais tocadas. Nessa época, Whitaker deixa o grupo em termos amistosos, sendo substituído por David Hemingway.
Devido aos crescentes atritos internos, grupo se desmanchou cinco meses após o lançamento de Build. De fato, o próprio clipe de Build já indicava que algo assim iria acontecer: no final do vídeo, aparece, pintado numa parede, a expressão “Housemartins R.I.P.” Entretanto, os membros permaneceram amigos, e eventualmente participavam dos projetos uns dos outros. Paul Heaton e David Hemingway fundaram, posteriormente, o grupo The Beautiful South. Stan Cullumore tornou-se escritor de livros e programas de TV infantis e músico infantil. Hugh Whitaker tentou tocar em várias bandas, mas acabou preso e, após solto, tornou-se um músico local. Norman Cook criou o Beats International e, posteriormente, seguiu sua carreira sob o nome FatboySlim.
The Housemartins destoava um pouco das demais bandas inglesas dos anos 80. Freqüentemente eram “denunciados” como uma cópia de The Smiths, mas isso não parece ter muito fundamento: o uso de a capella, as letras mais “certinhas”, a aparência mais nerd, tudo fazia de The Housemartins uma banda diferente. The Housemartins era mais acessíveis às “pessoas comuns” que The Smiths, que eram mais vanguardistas e mais influenciados pelo punk rock. As letras de suas músicas eram marcadas por uma curiosa mistura de cristianismo e marxismo, idéias defendidas por Paul Heaton à época. Suas letras tinham um tom melancólico e suas músicas eram bastante divertidas.
Enfim, chega de falação. Com vocês, The Housemartins, tocando Happy Hour:
Segue Build, a mais conhecida aqui no Brasil:
Enfim, a a capellaCaravan of Love, que foi o maior sucesso da banda no Reino Unido:
Eu me lembro da professora ensinando sobre o exemplo canônico de enganação do brasileiro: o escambo entre europeus e indígenas. Eu ficava chocado ao saber como os índios eram enganados pelos portugueses e afins, de modo a trabalharem duro para trocar produtos valiosos por objetos baratos e comuns.
Hoje, essa história já não faz tanto sentido. O português até poderia se achar espertíssimo nas trocas que fazia, mas o índio talvez pensasse a mesma coisa. O índio trocava pedras e tocos de madeira por itens sofisticados, como espelhos e pentes. Que ele ia fazer com madeira de pau-brasil? Talvez servisse de lenha…
Economistas reiteram que, em trocas voluntárias, ambas as partes saem ganhando. Se os autóctones brasileiros foram vítimas de chacinas, doenças importadas e descaracterização cultural, o escambo no Brasil Colônia talvez representasse o contrário disso: o europeu enriquecia e o índio se divertia com os gadgets recém-chegados. O prendedor de cabelo era o iPhone tupi do século XVI!
Na verdade, a professora esperava muito mais do índio. Para que entender o valor do pau-brasil, o índio teria de fazer roupas e querer tingi-las de vermelho; para que o ouro valesse algo, teria de fazer moedas e coroas. As matérias-primas do Brasil Colônia precisavam de processos de manufatura intrincados desconhecidos aos indígenas. Mais que isso: o valor que tais processos agregavam aos produtos era, geralmente, apenas significativo nas culturas européias. Em parte, a professora achava que o índio fora enganado porque olhara para ele com os valores europeus dela. O índio, porém, atribuía aos objetos o valor que ele poderia aproveitar.
O mais interessante dessa maneira de ver o escambo é o quão útil ela é para explicar algumas bizarrices que eu faço.
Por exemplo, não tenho interesse por cargos públicos. Abandonei um emprego público e não quero fazer concursos. Não sei como é em outros lugares, mas, em Brasília, se você faz isso, as pessoas começam a olhar para você como se você fosse um monge digambara. Eu, porém, sinto que tenho oportunidades ótimas fora do emprego público e, com minha pouca idade, muita disposição e poucos compromissos, estou no melhor momento para aproveitá-las.
Outro exemplo. Tenho um computador com processador AMD Duron 2 GHz com 128 MB de memória e disco rígido de 40 GB. É uma máquina bem limitada, mas tem me servido bem. Como trabalho com computação, sempre me perguntam como não faço logo um upgrade, mas tem valido mais a pena gastar dinheiro com geladeira e fogão – que são cruciais para quem mora sozinho – e me divertindo. Outros amigos me dizem que eu poderia parcelar o pagamento de um computador novo, mas um computador novo agora não vale mais para mim que o desconto que vou perder se pagar à vista.
Ambos são comportamentos estranhos para algumas pessoas que conheço. Parece a essas pessoas que estou trocando algo valioso (estabilidade, conforto, adiantamento de consumo) por coisas com pouco valor (desafio, aparelhos de cozinha e diversão, disciplina financeira). Só que eu sou um bom profissional de um setor em crescimento, então não corro tanto risco de ficar desempregado. Do mesmo modo, tenho uma máquina antiga e às vezes até irritante, mas plenamente funcional, e nem gosto tanto de computador assim. O que estão me oferecendo no lugar do que quero são benesses das quais já tenho o suficiente, ou algo próximo disso.
É certo que algum dia posso me tornar um servidor público ou financiar bens de consumo, e certamente vou comprar um computador novo. Alguém provavelmente me dirá algo como “A-há! Viu só? Eu estava certo o tempo todo!”
Prefiro tomar a melhor decisão disponível no momento. Sei que o que vou querer amanhã poderá ser diferente do que quero hoje. Eu posso vir a querer, no futuro, ter feito o que me sugerem, mas fazer o que quero é mais importante que fazer o que eu posso vir a querer ter feito. Já fiz muita coisa que não queria pensando que me daria um “futuro melhor”; hoje, me arrependo. Quando eu for colonizado, posso até querer o ouro… mas agora, não. Posso ou não me arrepender do que faço, mas certamente vou lembrar que fui feliz fazendo.
Não sei o que é melhor para mim, mas sei que eu quero o que é melhor para mim. Conselhos são bons, mas a decisão é sempre minha. Se, no final, eu me convencer que um espelho vale três pedrinhas… bem, parece estranho, mas em quem mais posso confiar?
Scott Adams é um cartunista estadunidense. Ele é o criador do personagem Dilbert e sua trupe, é formado em Economia e dono de uma rede de restaurantes.
Além disso, Scott Adams mantém o blog The Dilbert Blog. Nesse blog, ele postou um ótimo texto sobre sucesso profissional, que eu traduzi com ajuda de doisamigos. A tradução segue abaixo.
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Conselho profissional
por Scott Adams
Ontem à noite eu conheci uma supervisora de scripts. Ela trabalha com diretores para garantir que um filme tenha a continuidade certa e que uma cena combine com a próxima. É um trabalho fascinante, no qual se convive com os maiores diretores, roteiristas e celebridades. Não há dois trabalhos iguais. Como se consegue esse tipo de emprego? Ela me disse que graduou em antropologia e simplesmente “caiu nessa” através de uma série de eventos.
Eu conheço a sensação. Eu me especializei em Economia, fiz um MBA, trabalhei num banco, depois numa companhia telefônica, e me tornei um cartunista.
Para cada pessoa que estuda algo específico, como Direito ou Medicina, e efetivamente termina nesse tipo de carreira, eu imagino que haja umas cinco que deixam a sorte escolher suas carreiras. Isso ocorre com mais freqüência do que você pensa, mas não se pode recomendá-lo como uma estratégia de carreira. Ao invés disso, eu recomendo uma fórmula geral para o sucesso. Permita-me explicar.
Se você deseja uma vida medianamente bem-sucedida, isso não precisa de muito planejamento. Apenas mantenha-se longe dos problemas, vá à escola e candidate-se a empregos de que você goste. Entretanto, se você quer algo extraordinário, você tem dois caminhos:
Torne-se o melhor em alguma coisa específica.
Torne-se muito bom (entre os 25% melhores) em duas ou mais coisas.
A primeira estratégia é difícil a ponto de ser quase impossível. Poucas pessoas chegarão a jogar na NBA ou lançar um álbum de platina. Não recomendo a ninguém sequer tentar.
A segunda estratégia é bem mais fácil. Todo mundo tem pelo menos umas poucas áreas nas quais podem ser um dos 25% melhores com algum esforço. No meu caso, sei desenhar melhor que a maior parte das pessoas, mas dificilmente seria um artista. E não sou nem um pouco mais engraçado que o comediante stand-up típico que nunca chegou a ser grande, mas sou mais engraçado que a maioria das pessoas. A mágica é que poucas pessoas sabem desenhar bem e escrever piadas. É a combinação dos dois que torna o que eu faço tão raro. E quando você acrescenta meu background em administração, de repente eu tenho um tópico que poucos cartunistas poderiam esperar entender sem vivê-lo.
Sempre recomendo aos jovens que se tornem bons oradores (entre os 25% melhores). Qualquer um pode fazer isso com prática. Se você acrescentar esse talento a qualquer outro, de repente você é o chefe das pessoas que têm apenas uma habilidade. Ou faz uma graduação em administração, além de sua graduação em engenharia, direito, medicina,
ciências, o que quer que seja. De repente você está no comando, ou talvez você funde sua própria empresa usando seu conhecimento combinado.
O capitalismo recompensa coisas que sejam raras e valiosas. Você se faz raro ao combinar dois ou mais “muito bons” até que ninguém mais tenha a sua mistura. Eu não passei muito tempo com a supervisora de roteiros, mas ficou óbvio que sua habilidade verbal e de escrita está no nível mais alto, assim como suas habilidades interpessoais. Imagino que ela tenha uma grande atenção por detalhes, e talvez algumas outras competências na mistura. Provavelmente nenhuma dessas habilidades dela esteja entre as melhores do mundo mas, juntas, elas fazem um pacote forte. Aparentemente, ela tem sido muito requisitada há décadas.
Pelo menos uma das habilidades da sua mistura deve envolver comunicação, seja escrita ou verbal. E ela pode ser tão simples quanto aprender a vender mais efetivamente que 75% do mundo. Essa é uma. Agora acrescente a isso o que quer que sua paixão seja, e você tem duas, porque isto é a coisa em que você facilmente porá energia suficiente para alcançar os 25% melhores. Se você tem talento para uma terceira habilidade, talvez administração ou falar em público, desenvolva-a também.
Isto soa como um conselho genérico, mas você dificilmente encontraria alguma pessoa bem-sucedida que não tivesse três habilidades entre as 25% melhores.
Quais são as suas três?
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Veja o artigo original em The Dilbert Blog: Career Advice. Estou querendo escrever algo novo aqui, mas o mês de novembro é terrível… Por ora, fiquem com essa tradução que fiz para uma amiga há algum tempo. Não é muito boa, mas serve para encher o espaço vazio até dezembro.
Meus amigos falam muito sobre sair do Brasil. Consideram o país atrasado, mal administrado e sem perspectivas. Discordo de uns pontos, concordo com a maioria, mas nunca pensei em realmente me mudar do Brasil. Nunca me senti atraído por nenhuma nação a ponto de pensar em viver nela. Também não morro de amores pelo Brasil, mas a inércia me fez querer ficar aqui.
Recentemente, porém, descobri a Mais Serena República de São Marinho.
Impressionate fotografia do Forte de Guaita.
São Marinho (ou também San Marino) é uma pequena república localizada nos Montes Apeninos. Foi fundada em 301 por Marinho, um cristão da Dalmácia, que fugia da perseguição romana. Essa comunidade era regida por um conselho semelhante ao Senado romano; desse modo, é considerada a mais antiga república moderna.
O que chama a atenção em San Marino é sua simplicidade. É a quinta menor nação do mundo em território, e sequer possui aeroporto ou litoral. O autódromo onde ocorria o Grande Prêmio de San Marino, na verdade, fica na Itália. A população total do país não chega a 30 mil pessoas. É como se fosse uma cidade do interior.
Ao contrário de outras micro-nações européias, como Mônaco e Liechtenstein, São Marinho não é um país ostensivamente rico. Enquanto essas outras nações são, geralmente, paraísos fiscais, o turismo é responsável por 50% do PIB de San Marino. Em verdade, até meados do século XX, San Marino era um país pobre. Seu território fica numa uma região que, durante muito tempo, foi isolada, e não é especialmente fértil. Isso provavelmente viabilizou sua longa independência.
A principal instituição política de San Marino é o Grande e Geral Conselho: um parlamento formado por sessenta membros eleitos a cada cinco anos. O Grande e Geral Conselho elege, dentre seus participantes, dez que comporão o Conselho de Estado, a instituição que exerce o Poder Executivo. O Grande e Geral Conselho também elege os dois capitães regentes que são os chefes de Estado. Geralmente, os capitães regentes são de partidos opostos, e têm mandato de seis meses. Após sua regência, os cidadãos têm três dias para entrar com processos contra o capitães regentes. Esse é o sistema de governo do país desde o século XIII. San Marino não é apenas a mais antiga república do mundo; também tem a mais antiga constituição ainda vigente, sendo promulgada a partir dos estatutos do século XV.
Conta-se que, quando Napoleão invadiu a Itália, perguntaram-no se tomaria São Marinho. Ele respondeu: “Por quê? É uma república modelo!” Garibaldi buscou refúgio em San Marino – e, como recompensa, San Marino manteve-se independente após a união da Itália. Na Segunda Guerra, o Eixo invadiu o país, e os Aliados o libertaram, saindo poucas semanas depois, como que dizendo que São Marinho não fazia parte da questão. É uma nação neutra, pacífica e respeitada. Para quem quer paz e sossego, é perfeita.
Ainda não sei como se faz para obter cidadania samarinesa. Descendentes de samarineses conseguem-na sem grandes complicações. Eu tenho ascendência italiana, então talvez possa me mudar para Rimini e vá almoçar na Sereníssima República 🙂
Nota: San Marino não faz parte da União Européia, então visitar a Itália de lá não deve ser como pegar o Eurotúnel. De qualquer forma, transitar entre San Marino e Itália deve ser mais fácil do que entre quaisquer outros países, com exceção dos países da União Européia. Ademais, em San Marino aceita-se o Euro sem problemas.