Alex Castro (o autor de Radical Rebelde Revolucionário) escreveu Mulher de um Homem Só há muito tempo. Tentou lançar o romance através de editoras convencionais. Como não conseguiu, vendeu o livro antes de imprimir, para financiar a primeira edição. Eu, leitor tiete do Liberal Libertário Libertino, comprei um desses volumes.
Para ser honesto, não esperava um livro bom. Nunca gostei muito da ficção de Alex Castro. Onde Perdemos Tudo, seu livro de contos, é até bem escrito, tecnicamente bom, mas não me impressionou, embora tenha passagens divertidas. Ademais, as amostras de Mulher de um Homem Só também não me atraíram.
Felizmente, o livro me surpreendeu de maneira positiva.
Após terminá-lo, notei como o livro é ágil. Li-o dois dias na primeira vez; na segunda, três dias, por falta de tempo. O livro é ágil porque o texto é curto, mas também porque a prosa é direta e clara. A história vai e vem, mas o autor foi hábil: não nos perdemos na leitura. O livro segue uma cronologia psicológica, mas que não trava o leitor.
Mulher de um Homem Só não parece um romance. Ao terminar de lê-lo, senti como se tivesse lido um conto; certamente, seria mais fácil classificá-lo como uma novela. Isto não se deve ao tamanho: a narrativa se refere a um período curto, e o tópico é bastante definido. Isto diverge um pouco da minha imagem de romances, mais próxima de Cem Anos de Solidão ou Grande Sertão: Veredas.
De imediato, a história me lembrou Wuthering Heights e Crônica da Casa Assassinada, que têm como protagonistas mulheres com níveis variáveis de possessividade e ciúmes. Mulher de um Homem Só não é um livro tão extremo quanto estes dois, porém. Esta “baixa intensidade”, por outro lado, remete a outro estilo, o de Clarice Lispector. O tom de monólogo, a liberdade em passear pela história e as sutis sugestões no texto lembram muito a autora.
Uma passagem surpreendente do livro foi o episódio de Libeca. Tive a sensação de ler Pedro Bandeira: de repente, percebo um tom próximo da literatura infantojuvenil dos anos 80. Não que seja idêntico: é como se eu estivesse lendo o livro de um dos leitores daquelas histórias. Procurei mais desses trechos no livro e não encontrei, mas lembrei de trechos de Onde Perdemos Tudo que tinham esse aspecto. Esta foi minha impressão e, mesmo que não se fundamente, me fez perguntar se há pesquisas sobre a influência da literatura infantojuvenil sobre os escritores.
Um ponto polêmico do livro foi a onisciência da narradora. Eu gostei, me fazia suspeitar da narrativa. Entretanto, algo que estranhei muito foi um aparente conhecimento do futuro: dois parágrafos em parênteses parecem descrever eventos que vão acontecer. Como um experimento literário, seria naturalmente válido, mas destoam do tempo do livro, que parece descrever o passado próximo. O principal problema é que esses parágrafos não acrescentam – ao menos para minha leitura não muito hábil – muito ao livro, parecem desnecessários. Certamente, serviram para acrescentar mistério à personagem, mas ainda não sei se gostei disto.
Por fim, destaco a qualidade do final. Muitos romancistas novatos aceleram o passo para terminar o livro. É o caso, por exemplo, do romance EQM. Isto não acontece em Mulher de um Homem Só. O livro tem um final brusco, uma solução que arrisca se tornar uma saída fácil, mas fica claro que a narração foi pensada para chegar a esse ponto. O romance termina com um clímax muito bem pensado.
Para mim, o livro é bem mais maduro que Onde Perdemos Tudo. No livro de contos, tinha-se a sensação de ler histórias da vida do autor. Quando Alex Castro sai de si mesmo e tenta ser Carla, o resultado é mais interessante. Neste caso, ficou claro que o autor fez bem em não escrever sobre si mesmo.
Mulher de um Homem Só não é genial, mas é um bom livro que vale a pena comprar e ler. Recomendo especialmente às mulheres, que parecem ter gostado muito do livro. Para mim, o saldo foi positivo: já fiquei mais interessado no ficcionista Alex Castro.