Hoje, faz sete anos que tive meu primeiro dia de aula na Universidade de Brasília. Eu já tinha ido à UnB duas vezes antes: no Ensino Médio participei de uma pesquisa lá, e fui lá também para fazer o registro como aluno. Entretanto, o dia 27 de maio de 2002 foi, para mim, o dia em que comecei a compreender o valor da UnB, e o papel dela na minha vida.
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Jardim interno da Reitoria da UnB
Nesse dia, houve a matrícula nas disciplinas e recepção aos calouros. Embora as aulas tenham começado praticamente no meio do ano, aquele ainda era o primeiro semestre de 2002: a greve de 2001 havia estendido o último semestre do ano anterior e o primeiro semestre foi postergado. Eu entrei no Instituto Central de Ciências, o prédio onde eu faria a matrícula, pela entrada sul – que fica consideravelmente longe do meu departamento. Nela, havia um cartazinho onde se lia algo como
Usada, mas ainda amada. Não, não é a sua mãe. Vendo prancheta de desenho
Esse cartazinho nunca mais saiu da minha cabeça.
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Corredor da Ala B do ICC Norte
O professor Marcelo Ladeira explicou como funcionava a matrícula, deu algumas sugestões (das quais não me recordo) aos alunos e começou a matriculá-los, um a um. Essa matrícula cara-a-cara era terrivelmente lenta e entediante – mas eu simplesmente não conseguia deixar de estar empolgado. Oras, eu estava realizando o meu sonho!
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Jardim interno, na entrada norte
Depois de feita a matrícula, eu não me recordo bem o que fiz, mas acredito que eu tenha ido almoçar no Restaurante Universitário. No meu primeiro almoço, serviam músculo, com os acompanhamentos de sempre, e a fruta era banana. Era, se não a primeira vez, ao menos uma das primeiras vezes que eu comia fora de casa, excetuando eventos festivos e casas de parentes e amigos. A comida estava saborosíssima, e vi alguém cortando rodelas de bananas no prato. Eu, curioso, fiz o mesmo, e adquiri um estranho gosto por banana com feijão e pimenta.
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Bambuzal, à frente da Biblioteca Central
Tenho uma lembrança que acredito ser desse mesmo dia. Após o almoço, eu saí a passear pela universidade, admirando os jardins internos do ICC. Nessa caminhada, encontrei com uma caloura que vez a matrícula comigo. Eu a havia ajudado na matrícula, em algum momento, e ao encontrá-la novamente, nos saudamos. Eu soube depois que morara nos Estados Unidos durante um bom tempo e, creio, retornou para estudar na UnB. Eu nunca convivi muito com ela: não faria sentido, certamente não teríamos muito o que falar. Entretanto, até hoje a imagem dela me marca porque era de uma das categorias de pessoas que só conheci ao entrar na universidade. Ela, naturalmente, se formou bem antes de mim, e não cheguei a vê-la depois de ela deixar a UnB.
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Jardim central do ICC Sul
Sou aluno da UnB há exatos sete anos. Em alguns dias, devo estar me formando. Nesse meio tempo – que foi muito mais longo do que deveria – comecei a trabalhar, reprovei várias matérias, estressei-me com diversas disciplinas, tive minha primeira namorada, fui até mesmo desligado da UnB – mas voltei, em outro curso, agora noturno. Foi uma história muito intensa, mas, ao contrário que praticamente todos que eu conheci, eu não estou cansado. Quase todos os alunos que vi se formarem, se formavam desgastados, irritados, buscando desesperadamente sair da universidade. Eu, porém, poderia continuar no meu curso por bem mais tempo, e só não o faço porque, bem, isso não faria sentido. Eu ainda amo a UnB como quando era calouro – ou até mais. Quase todos terminam o curso reclamando dos problemas da UnB (que não são poucos); eu termino meu curso com a mesma sensação de sonho do meu primeiro dia. Talvez eu continue lá, como mestrando ou em outro curso, talvez eu parta para outras possibilidades; o que importa é que saio feliz.
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Jardim interno na Entrada Sul
Consegui meu primeiro emprego devido à UnB, conheci meus melhores amigos lá. Incidentalmente, conheci minha primeira namorada, uma mulher maravilhosa, através da universidade. Trabalhei no LINF, um laboratório povoado por algumas das mentes mais curiosas e motivadas que conheci. Ademais, claro, tive uma formação acadêmica excelente, que só não foi melhor por minha própria displicência. Se há algo de que eu reclamo, é só de mim mesmo, que não estive à altura da universidade.
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LINF: pouca ventilação, ar condicionado mal regulado e gênios trabalhando
Meus pais não estão aqui para ver o resultado do seu trabalho – infelizmente, já não estavam naquele 27 de maio. Sou muito grato a eles por terem me preparado para isso. Não só a eles, mas a todos que me ajudaram, os professores do Ensino Fundamental e Médio, meus tios, minhas irmãs, tantas outras pessoas que até me escapam da memória. Sou grato também aos professores da UnB, servidores e alunos, que formam essa magnífica instituição. Graças a todos, eu não só tive aquele maravilhoso primeiro dia de aula, mas também tive os sete anos mais felizes da minha vida. E estou grato, também, à UnB, minha alma mater, por simplesmente estar lá, para mim, e para outros como eu.
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Caminho para a L2 Norte, passando pela FT
Obrigado, UnB.