Coma sua Felicidade

Adam Ragusea é um dos meus youtubers favoritos. Ex-professor universitário de jornalismo, ele começou a fazer vídeos sobre comida, para aprender mais sobre essa então nova mídia. Deu certo. Hoje, ele ganha consideravelmente bem, e até largou a universidade, tornando-se relativamente famoso. Só não está feliz:

Ouvindo a este episódio, me identifiquei muito com ele. Também sou alguém satisfeito com minha situação atual, seja financeira, familiar ou cultural. Ainda assim, por mais que tudo esteja aparentemente bem, muitas vezes me pego infeliz. Foi aí que descobri algo importante:

A gente precisa decidir ser feliz.

Não me entenda mal: estabilidade financeira, vida familiar bem-sucedida, sucesso profissional, entre outros, são fatores importantes, diria até necessários, para a felicidade. No entanto, necessidade não é o mesmo que suficiência. A felicidade é um ato em si. É como se fôssemos pessoas trabalhadoras e famintas que, embora tenhamos acesso à comida, nunca paramos para comer.

A comparação pode parecer boba. Se ser feliz fosse tão simples quanto se alimentar, todos seriam felizes, não? É porque esquecemos que até comer é algo complexo. Levamos uns bons anos aprendendo isso, com a ajuda de nossos cuidadores. Cuidadores, inclusive, que provavelmente nos ensinaram o caminho para o sucesso objetivo. Só que quantos nos ensinaram a nos sentir bem? Quantos eram, eles mesmos, felizes?!

Hoje, quando me sinto infeliz, procuro resolver o que é necessário. Pode ser fome, sono ou estar desidratado. Em outras ocasiões, ferramentas como diários de gratidão, meditação guiada, etc., também me ajudaram muito. Mas em um número surpreendentemente grande de vezes, eu simplesmente precisei decidir que está tudo bem e que posso ser feliz, aproveitando o momento.

Não sou feliz o tempo todo. Neste exato momento em que escrevo isso, não estou no meu melhor. No entanto, sei que é possível ser feliz. É verdade que, às vezes, é difícil de fazer ou até mesmo impossível de explicar, mas o ato de pensar explicitamente em ser feliz tem me ajudado significativamente.

Guangdong

Ermell / CC BY-SA (de Wikimedia Commons)

Me deu vontade de conhecer Guangdong.
Guangdong! De todos os lugares, Guangdong!
Já pensou? Vou a Shenzhen,
passeio com o mais belo livro de eletrônicos na cidade
e vou à Cidade dos Livros.

Não quero Cantão, oriental, misteriosa, imagina!
Ir a Guangzhou, com seus milhões
de pobres desgraçados trabalhando
como loucos, decididos e grandiosos,
os prédios espelhados
e as ruas! Sinceramente,
nem sei como são as ruas.
Guangdong!

Por que ir a Guangdong,
se é mais fácil vir de lá?
Quantas coisas aqui
que vieram de lá?
Por que elas querem
que eu vá lá,
que eu monte um robô de brinquedo
com minhas mãos
e faça existir milhões de coisas?
Guangdong!

E suas similares também!
Mas, por alguma razão,
primeiramente Guangdong.
Por que iria?
Por que a teia que vai a Singapura
e cruza o Canal do Panamá
iria tanto querer me levar?
Cantão!

Mas seria bom, não seria?
Talvez deva ser assim,
talvez eu deva ser levado,
eu, que como seus biscoitos de óleo e areia,
que vivo de criar gênios
para suas lâmpadas,
talvez deva ser assim,
eu, e você, sim, você também,
iríamos, já pensou?

Além da comida surpreendente
e das bebidas violentas,
além das fotos, esqueça isso!
Iríamos
(eu certamente iria)
iria, não sei por quê,
não sei
mas algo me diz
que eu saberia, lá.

By YEUalichangpsia – Own work, CC BY-SA 4.0 (de Wikimedia Commons)

O dia em que se declarou a Guerra da Previdência

A aprovação da reforma da Previdência despertou um turbilhão emocional em mim. Resolvi então desabafar em uma thread no Twitter, e me pediram em em forma de texto. Sei que há bots que fazem isso, mas nada melhor que postar no blog! Down with the internet siloes, afinal.

Enfim, sou explicitamente à favor da reforma por dois motivos: para a Previdência ser mais justa e mais sustentável. Na minha opinião ignorante, esta reforma cumpre os dois propósitos mais ou menos bem. Logo, acho bom que seja aprovada.

Contudo, quando vi as comemorações de alguns outros pró-reforma, fiquei bem incomodado. Vi gente (que aliás respeito e acompanho) caçoando de quem era contra, mas mesmo quem se portou melhor comemorava ter vencido esta “batalha” e, em breve, a “guerra.” Veja, eu concordo com essas pessoas, mas isso me caiu mal para caramba. Nem sabia por quê!

Refleti e acho que posso explicar assim. Os defensores da reforma batalharam muito por uma mudança fundamental ao país. Conseguiram, de fato, uma vitória enorme. Sua comemoração me lembrou aquelas fotos americanas do fim da Segunda Guerra, pessoas dançando nas ruas.

Fonte: History Daily

Só que a reforma não é o fim de uma guerra – pelo contrário, é o começo. O que ocorreu sexta não foi o 8 de maio de 1945, quando soldados voltavam para casa. Foi o 11 de dezembro de 1941, quando o Congresso americano resolveu mandá-los à guerra.

Por quê? Porque o trabalhador vai ter de trabalhar mais. Quem vai à guerra é o trabalhador, ou melhor, vai ficar mais alguns anos lá.

Note que eu não acho isso errado. Eu já sabia que isso ia acontecer: igualar os regimes trará alguma justiça, mas a sustentabilidade só virá se praticamente todos pagarem mais. Só que, quando começaram a comemorar e, especialmente, a caçoar… foi como se os congressistas americanos fizessem um baile de máscaras enquanto os soldados embarcassem para a Europa.

Um exemplo concreto de como vejo. Comentou-se muito como a maioria dos mais pobres (digamos, pedreiros), já se aposentam por idade. Logo, a nova regra não mudaria nada para essa maioria. Isto é excelente! Mas alguns certamente se aposentam antes, por contribuição. Sexta, foi dito a estes: “Isto não é mais possível: você vai ter de carregar tijolo até os 65 anos, amigão. Você foi contra? Então com licença, que agora vou rir do seu terraplanismo previdenciário.”

(Na verdade, há alternativas. Previdência complementar, por exemplo. Mas isso está distante da realidade da maioria, é caro e demanda muito conhecimento. E com o aumento da demanda, a quantidade de produtos bosta dos bancos vai crescer também.)

Note que entendo completamente a comemoração! Muitos destes são profissionais muito estudados, que viram o óbvio, lutaram por anos pelo que é melhor (por doloroso que seja) e estão vencendo. Há trabalhos de uma vida nessa aprovação.

Ainda assim, até a esses vale pedir bom senso. Até porque, na prática, duvido que a maioria dos economistas liberais sejam realmente afetados pela reforma: são profissionais super-especializadas com salários enormes cujo desempenho cresce com a idade. Ao chegar aos 65, provavelmente sequer vão se aposentar de fato. Os ganhos e as oportunidades são tão grandes (como professores universitários, autores, políticos) que vale a pena continuar trabalhando.

Nada contra isso, alias. E novamente, eles estão certos no que defendem. Contudo, ainda assim estão tão distantes da realidade da maioria que não conseguem respeitar quem vai contra essa mudança. Acrescentar mais cinco anos de trabalho a um professor de crianças não é o mesmo que fazer um burocrata trabalhar mais cinco anos.

E aqui faço um desvio para falar do liberalismo em geral: além de perverso, a falta de sobriedade pode ter um preço caríssimo.

Olhem as hordas pedindo pelo fim do mundo globalizado, da democracia liberal. Como essas pessoas ficaram assim? Bem possivelmente, viram burocratas bem remunerados tomando decisões (corretas!) que lhes doíam. Com sorte, a única empatia que recebiam era um lip service de “entendo que é duro, mas…” Na maioria das vezes, quem discorda recebe um gráfico complicado e uma tabela cheia de siglas na cara. Se nesse supertrunfo não tiver uma carta maior, deve se calar; se tiver, vai ganhar um “é, pode ser” como resposta.

Isso é terrível! O liberalismo comemora uma vitória (em aliança com um presidente que venera torturador e indica filho a embaixada!) como se uma onda acachapante de desejo de liberdade econômica tivesse varrido o país. Não foi isso. É desesperança: o povo aceita sacrifícios por desespero. E não tem outro caminho: não vai dar para pagar, é preciso cortar! O Brasil entendeu isso como nunca antes. Só que se não houver respeito pelo sacrifício alheio, nós, que nunca o sofreremos o grosso desse sacrifício, nós seremos os primeiros bodes expiatórios quando a autocracia se consolidar.

Como sempre, a chance de eu estar falando abobrinhas é muito grande… mas não acho que esteja sozinho desta vez. Lembram-se do manifesto de The Economist nos seus 175 anos? Em um trecho, diz-se isso:

Yet ruling liberals have often sheltered themselves from the gales of creative destruction. Cushy professions such as law are protected by fatuous regulations. University professors enjoy tenure even as they preach the virtues of the open society. Financiers were spared the worst of the financial crisis when their employers were bailed out with taxpayers’ money.

A manifesto for renewing liberalism

Alguém negaria que parece descrever justamente muitos de nós, defensores da Nova Previdência?

Então, mesmo sendo um zé-ruela qualquer da Internet, faço esse convite geral aos pró-reforma: sejamos sóbrios. Por empatia, e também por cálculo.

Eleição é dorgas

Passei quase quatro anos limpo. Infelizmente, nesse último fim de semana, dei uma baforada no cachimbo eleitoral, e tive uma recaída. Sou cracudo da política de novo.


Só para constar, meu candidato presidencial é Ciro Gomes.

É um político experiente e sagaz, não foi denunciado por nada e tem uma habilidade notável de fazer previsões. Alias, também está muito alinhado com meus valores. Eu tinha umas poucas reservas, cogitava votar em Marina também… Mas se já achava ele interessante no começo, agora é de longe a melhor chance para o país.


Mas nem é disso que quero falar. Na verdade, eu queria fazer uma pergunta.

Em quem vocês estão votando para distrital? E federal? Já tenho escolhas mas, como passei muito tempo fora, posso estar perdendo candidatos interessantes. O que vocês sugeririam?

Voltando a Brasília

Voltamos a morar no Distrito Federal. Que aventura!

Nos quase cinco anos que passamos fora, minha família e eu aprendemos muito. Conviver com uma cultura tão diferente nos ensinou muito. Agora, o desafio está sendo adaptar-se de volta!

Ainda assim, estamos felizes. Estar perto da família compensa toda a trabalheira. Para mim, em especial, está sendo uma experiência curiosa morar novamente na comunidade onde cresci.

Quanto a viver em Recife, foi uma experiência maravilhosa. Meus amigos recifenses em Brasília me alertaram para uma cidade miserável, suja e violenta, uma Gotham City nordestina. Felizmente, a experiência não foi assim. Os recifenses nos receberam de braços abertos, conhecemos uma cultura incrível e nos acostumamos ao caos e benefícios de uma cidade grande.

É verdade que, se a violência reduziu-se muito (e depois cresceu de novo), a miséria ainda é dramática. Mas mesmo isto nos ensinou algo: Recife é bem menos segregada que as cidades que conheci, e um senso de comunidade permeia a todos, o que alivia parte dos problemas. Ademais, a cada dia um problema é resolvido, um drama solucionando. A Recife de hoje é certamente bem melhor que a de uma década atrás.

Enfim, sentimos falta deste povo que nos adotou de coração e desta cidade que nos ensinou tanto. Ainda assim, ah, é muito bom estar de volta.

A escola e a casa

Recebo muitos memes sobre como “escola ensina português, educação se aprende em casa. ” Então eu lembro deste artigo – e especialmente desta parte:

In Latino culture, she said, “the school is seen as being in charge of teaching children their letters and all that, while parents are in charge of discipline—making sure they listen and they’re good and they sit still. Parents don’t tend, overall, to give children a lot of choices and options. It’s kind of like ‘I rule the roost so that you can behave and learn at school.’ ” The Providence Talks approach “is a little more like ‘No, your child and what they have to say is really important.’ And having them feel really good about themselves as opposed to passive about their learning is important, because that’s what’s going to help them succeed in this culture.”

Aquela separação não é um valor universal, portanto.

Aliás, essa distinção sempre me me pareceu prejudicial. The Talking Cure explora bem como o apoio doméstico ajuda na escola. O outro lado também é importante: é útil, e é possível, ensinar temas aplicáveis, como práticas de estudo, concentração e etiqueta. Para muitas crianças desamparadas, isso mudaria suas vidas. Para muitas outras, isto já muda.

Isto não é possível, porém, com os métodos tradicionais de ensino. Se estes já falhavam com as matérias tradicionais, são inúteis para esses temas. Isto, junto ao nosso “princípio da segregação educacional”, nos impede de fazer um investimento tão simples, mas tão rentável, nos nossos filhos mais vulneráveis.

Eu realmente gostaria de ver nossa cultura mudada neste aspecto.

 

Três pontos sobre as eleições

Acredito que Aécio seria um presidente melhor, mas as urnas foram claras. Parabéns a Dilma e seus eleitores.

A melhor notícia foi o ótimo desempenho do PSDB. A campanha de Aécio foi excelente, as propostas ótimas. Aécio mostrou-se muito melhor que as alternativas anteriores e afastou-se dos que pregavam ódio. É dessa oposição que precisamos.

O sufoco do PT foi um aviso. O povo confia em Dilma, mas está muito descontente.Se Dilma ouvir o recado mandado via o sufoco, poderá fazer um governo melhor agora. Que assim seja.

O resultado da Copa não definirá a eleição

Há uma crença generalizada de que o resultado da eleição será função do resultado da Copa: se o Brasil for campeão, Dilma será reeleita; se não for, o PT sairá do poder. Muitos torcem contra a seleção (o que é seu direito, naturalmente) na esperança de mudar de governo. Alguns até cogitam que o governo tenha comprado os resultados da Copa.

Perdoem-me, amigos, mas que tolice!

Para desmentir a teoria, basta comparar as Copas passadas com as eleições do mesmo ano. Houve apenas um ano em que a situação ganhou após a seleção sagrar-se campeã. Se a vitória seleção tem influência sobre a eleição seguinte, tende a prejudicar a situação – o que não faz sentido.

Ano Brasil campeão Situação ganhou
1994 Sim Sim
1998 Não Sim
2002 Sim Não
2006 Não Sim
2010 Não Sim

Esta hipótese não advém da realidade, mas sim de uma visão simplória do eleitorado. Nesta visão, grande número de eleitores seria tão desligado da política que delegaria suas decisões eleitorais à única coisa que lhe interessa: o futebol. Este eleitor hipotético – conhecido como “despolitizado” – é tão ignorante da política que não é capaz de considerar mais nada em seu voto.

Isto é impossível, porém, porque ninguém pode ser isolado da política. Todo mundo é afetado pela segurança pública, fatores econômicos, saúde e educação públicas, transporte coletivo, infraestrutura. Não existe razão para o eleitor valorizar o resultado da Copa mais do que tudo que o afeta diariamente. Mesmo que se considere este eleitor tão ignorante e isolado que não possa assistir a um telejornal ou conversar com outras pessoas – uma situação bem improvável – sua própria vida é tão profundamente afetada por decisões políticas que, ainda assim, ele já teria uma boa base para suas decisões. De fato, como vários – mas não todos – postuladores do “eleitor despolitizado” não dependem (e às vezes nunca dependeram) de saúde, educação e transportes públicos, o tal “eleitor despolitizado” provavelmente terá muito mais conhecimento empírico sobre esses temas do que seus acusadores.

Considerando o estado lamentável da saúde, educação e transportes públicos, cabe perguntar por que, então, estes eleitores votariam em mais do mesmo. É impossível saber as motivações de todos os eleitores, mas algumas razões podem ser imaginadas.

Por exemplo, a economia. Embora eu mesmo seja bastante crítico das atitudes do governo na área, ela vai bem no que importa e é evidente para a maioria das pessoas. Apesar de certa redução na velocidade, a taxa de desemprego continua caindo. A inflação incomoda e o crescimento da renda média cai, é verdade, mas a renda continua subindo, e a inflação (que afeta mais o setor de serviços) está longe de afetar drasticamente o dia-a-dia.

O “eleitor despolitizado” também pode atribuir fatores diferentes a entes diferentes da federação. Se o ônibus está ruim, ele pode decidir por punir o prefeito, não a presidente; se a escola do filho vai mal, se oporá ao governador. De fato, os governadores tiveram avaliações piores que as de 2010. A divisão feita pelo eleitor pode ou não ser correta, mas existe.

Vale lembrar também governantes não são avaliados pelo quanto a situação está ruim, mas sim pelo quanto ela melhorou. Se o eleitor perceber que a situação está ruim, mas notavelmente melhor do que já foi, pode votar no governo atual. Eu, de fato, acredito que muita coisa melhorou – devido a esta administração, a administrações passadas e a fatores alheios – então não me estranharia que muitos votem por esta razão.

Algumas razões do opositor podem ser também as razões do voto pela continuidade – basta se pôr na posição de outra pessoa. Você pode achar que o Mais Médicos é uma gambiarra – mas para quem, no interior, não tinha médico nenhum ele pode ser a diferença entre vida e morte. Muitas faculdades favorecidas pelo Prouni podem não ser boas, mas seus cursos são a porta de entrada de carreiras promissoras. O programa Minha Casa Minha Vida pode ter externalidades negativas; ainda assim, muita gente saiu do barraco insalubre para a casa própria devido a ele. Estas mudanças revolucionam a vida das pessoas: é natural que guie o voto de muitas delas. O opositor pode apontar inúmeras falhas nestes programas, mas toda crítica, por válida que seja, será muito abstrata perante a concretude da mudança.

A Copa também pode influenciar votos – mas de outra maneira. O tão anunciado fracasso não se concretizou; ao contrário, considera-se esta a melhor Copa das últimas décadas. Consequentemente, o governo melhorou sua imagem por ter organizado um evento espetacular. Ademais, a confiança nos que professavam o caos caiu ante o fracasso de suas profecias. Ao invés do apocalipse previsto, vimos apenas soluços

…até a tragédia de 3 de julho. A queda do viaduto em Belo Horizonte é uma mancha horrível na história desta Copa. Ainda assim, isto não deve afetar muito as intenções de voto país afora. A responsabilidade da catástrofe ainda não foi atribuída (e parece pender para o município). Ademais, este foi um problema isolado – de outro modo, haveria catástrofes nas outras cidades-sede. Mesmo com tão deplorável acontecimento, o saldo eleitoral da Copa deve ser positivo.

A tese de que o campeão da Copa definirá a eleição prejudica acima de tudo quem acredita nela. Leva à desistência do diálogo, ao fechamento em si mesmo. Não precisa ser assim: basta aceitar que pessoas podem ter motivos razoáveis para discordar de seu voto. Uma vez que se aceite isso, o diálogo se torna viável e, aí sim, há a chance de se mudar a opinião alheia – ou de se aprender com ela.

Então, não se preocupe: você pode torcer sem medo pela seleção amanhã e, com sorte, na final. (Ou pode torcer contra, também, se preferir; só não precisa fazê-lo.) O resultado destes jogos não fará diferença real nas eleições. Torcer contra com o objetivo de mudar a política é, perdoem-me, uma tolice: é pensar que fez a diferença quando não mudou a ideia de ninguém. Aceitar este fato tornará o debate muito mais respeitoso e interessante.

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Sobre “Black blocs prometem caos na Copa com ajuda do PCC”

A reportagem do Estado de São Paulo é bem interessante. Não tanto pela suposta associação com o PCC – é bem possível que a organização criminosa simpatize com os black blocs, mas entre simpatizar e apoiar em campo há um mundo. O mais interessante são as histórias dos personagens. Por mais que que me oponha  aos manifestantes destruidores e suas teorias simplistas, pude entender muitas das motivações dos personagens, o que até me deixa, confesso, mais compreensivo. Em um “debate” dividido entre o chilique rabugento – típico, aliás, do próprio Estadão – e a verborragia adolescente dos manifestantes, Lourival Sant’Anna conseguiu encontrar gente.

(É bem verdade que a manchete é bem carregada, e o tom de “mistério hacker” em volta dos entrevistados é até meio cômico. Contudo, me pergunto quanto disso foi escolha do repórter – certamente, não foi pouco – e quanto disso foi necessário para passar pela editoria. Nada me tira da cabeça, por exemplo, que a manchete serviu para conquistar, ao menos um pouco, os editores, dado o perfil do jornal.)